Pluriverso: Um dicionário do pós-desenvolvimento

Pluriverso: Um dicionário do pós-desenvolvimento

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Sobre o livro:

“Desenvolvimento” é uma palavra artificial, um termo vazio em que se imprime uma significação positiva. Apesar disso, manteve seu status enquanto perspectiva, porque se inscreve em uma rede internacional de instituições, que abrange desde a Organização das Nações Unidas até as organizações não governamentais. […]

A queda da ideia de desenvolvimento se tornou óbvia na Agenda 2030 da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Foi-se o tempo em que o desenvolvimento significava uma “promessa”. Naquela época, falava-se em jovens nações ambiciosas que avançavam pelos caminhos do progresso. De fato, o discurso do desenvolvimento sustentava uma promessa histórica monumental: no fim, todas as sociedades venceriam o abismo que separa ricos e pobres, e partilhariam os frutos da civilização industrial. Essa era foi enterrada junto com o progresso, pois o que restou foi a luta diária pela sobrevivência. Embora as políticas de combate à pobreza tenham sido bem-sucedidas em alguns países, foram construídas à custa de desigualdades ainda mais profundas em outros lugares e cobraram o alto preço dos danos ambientais irreversíveis. […]

A meu ver, este dicionário do pós-desenvolvimento está diretamente enraizado na narrativa da solidariedade. Os verbetes elucidam vários caminhos para a transformação social, que colocam a empatia por seres humanos e não humanos em primeiro lugar; são visões que se posicionam firmemente contra o nacionalismo xenofóbico e o globalismo tecnocrático. É profundamente encorajador perceber que a teoria e a prática da solidariedade, como testemunhamos na diversidade geográfica desses autores, parecem ter alcançado todos os cantos do planeta.

— Wolfgang Sachs, na Apresentação

 

***

 

Ashish Kothari, Ariel Salleh, Alberto Acosta, Arturo Escobar e Federico Demaria são todos intelectuais-ativistas ou militantes-intelectuais envolvidos em intensas disputas políticas, e buscam superar o bloqueio imaginativo da esquerda mobilizando experiências práticas, projetos e cosmovisões dos cinco continentes e dos mares do mundo — “tantos vigores dispersos”, lembra Gioconda Belli, ecoando Rubén Darío. A diversidade de vozes que se expressa em Pluriverso constrói um panorama no qual vislumbramos outra humanidade — muito mais positiva do que aquela que nos apresenta o mundo saturado de informações e espetáculos à nossa volta — e a Terra que nos abraça.

O mosaico que constitui o Pluriverso toma como epígrafe um extrato da declaração zapatista de 1997: “O mundo que queremos é um mundo onde caibam muitos mundos”. Esta ruptura epistemológica com as esquerdas dogmáticas, homogeneizadoras e hierárquicas se tornaria, dois anos depois, um fio vermelho de estruturação do altermundialismo que explodiria nas revoltas contra as instituições de governança da globalização neoliberal. Hoje, após duas décadas, esta é, muito mais do que antes, a única aposta racional para a construção de alternativas sistêmicas ao deserto neoliberal que produz bilhões de derrotas humanas e abre caminho para Trump, Bolsonaro e Modi. A multiplicação de paradigmas de esperanças e utopias concretas é também a única forma de mobilizar as energias necessárias não só para se revoltar contra o atual estado de coisas mas também para construir afirmativamente outro mundo.

Ao contrário de uma aparente cacofonia, de um ecletismo incoerente, a polifonia orquestrada pelos editores de Pluriverso revela-se uma inovação metodológica importante. A abordagem não poderia ser mais pedagógica, com a organização dos verbetes e de sua proposta em três partes: (i) O desenvolvimento e suas crises: experiências mundiais; (ii) Universalizar a Terra: soluções reformistas; e (iii) Um pluriverso dos povos: alternativas transformadoras. Confronta, assim, a tragédia social e ecológica do mundo tanto com os limites e perigos das soluções reformistas quanto com as energias e potenciais das alternativas transformadoras que, ao conviver, interagir e convergir, podem construir outro mundo. Elas emergem da pluralidade de corpos, conhecimentos, vivências e práticas populares na relação entre os seres humanos e da humanidade com a natureza.

— José Correa Leite, na orelha

 

SOBRE OS ORGANIZADORES:
Ashish Kothari é um dos fundadores do grupo ambiental indiano Kalpavriksh. Lecionou no Instituto Indiano de Administração Pública. Coordenou a Estratégia Nacional de Biodiversidade e o Plano de Ação da Índia. Serviu nos conselhos do Greenpeace da Índia e do Greenpeace Internacional. Ajudou a iniciar o icca Consortium. E presidiu uma rede da União Internacional pela Conservação da Natureza (uicn) em áreas e comunidades protegidas. Foi (co)autor ou (co-)organizador de mais de trinta livros, incluindo Birds in Our Lives [Pássaros em nossas vidas] (2007); Churning the Earth: The Making of Global India [Agitando a Terra: a criação da Índia global] (2012); e Alternative Futures: India Unshackled [Futuros alternativos: Índia sem restrições] (2017). Ajuda a coordenar os processos Vikalp Sangam e Global Confluence of Alternatives.

Ariel Salleh é australiana, ativista, autora de Ecofeminism as Politics: Nature, Marx, and the Postmodern [Ecofeminismo como política: a natureza, Marx, e o pós-moderno] (2007 [1997]) e organizadora de Eco-Sufficiency and Global Justice: Women Write Political Ecology [Ecossuficiência e justiça global: mulheres escrevem ecologia política] (2009). Fundadora da revista Capitalism Nature Socialism, é também professora associada de economia política na Universidade de Sydney, Austrália, catedrática emérita na Universidade Friedrich Schiller, em Jena, Alemanha, e professora visitante na Universidade Nelson Mandela, na África do Sul.

Arturo Escobar leciona na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, Estados Unidos, e em várias universidades colombianas. Seu livro mais conhecido é La invención del Tercer Mundo: Construcción y desconstrucción del desarrollo [A invenção do Terceiro Mundo: construção e desconstrução do desenvolvimento] (1995). Seus livros mais recentes são: Otro posible es possible: Caminando hacia las transiciones desde AbyaYala/Latino-America [Outro possível é possível: jornada para as transições a partir da AbyaYala/América Latina] (2018); e Designs for the Pluriverse: Radical Interdependence, Autonomy, and the Making of Worlds [Projetos para o pluriverso: interdependência radical, autonomia e construção de mundos] (2017). Há mais de duas décadas trabalha com movimentos sociais afro-colombianos.

Federico Demaria é cientista socioambiental interdisciplinar, pesquisador em ecologia política e economia ecológica no Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental (ICTA) da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). É professor visitante no Instituto Internacional de Estudos Sociais, em Haia, Holanda, e membro do coletivo Research & Degrowth e da EnvJustice, projeto de pesquisa que visa a estudar e contribuir com o movimento de justiça ambiental global. É também agricultor de azeitona orgânica.

Alberto Acosta, economista equatoriano, é ex-gerente de marketing da Corporación Estatal Petrolera Ecuatoriana (Cepe), ex-ministro de Energia e Minas do Equador e ex-presidente da Assembleia Constituinte que escreveu a Constituição equatoriana de 2008. Atualmente, é professor e autor de inúmeros livros e artigos, entre eles O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos (Elefante / Autonomia Literária, 2016), e coautor, com Ulrich Brand, de Pós-extrativismo e decrescimento: saídas do labirinto capitalista (Elefante / Autonomia Literária, 2018).

 

Detalhes da edição:

organizadores: Ashish Kothari, Ariel Salleh, Arturo Escobar, Federico Demaria e Alberto Acosta

editora: Elefante

idioma: Português

páginas:576

tradução: Isabella Victoria Eleonora

comprimento: 22,00 cm

largura: 16,00 cm

ano de lançamento: 2021

 

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